Escrevi minha vida em um pedaço de papel de pão, mas não era qualquer pedaço, era aquele que meu avô trazia junto com um pacote de torradinha, que nos meus braços de criança viravam pulseiras. Era só se sentar a mesa e a fantasia começava a virar realidade, os desenhos nos azulejos criavam vida e as linhas que separavam o mundo real do imaginário se cruzavam dentro da minha cabeça. Criava um mundo em meu quintal, com reis e rainhas, bruxas e princesas e até um castelo feito com os galhos de um abacateiro velho. Os gatos e cachorros eram dragões que cuidavam do meu reino, as flores do jardim viravam uma floresta e as pedras do caminho eram muros que nunca iriam ser destruídos. Brincava entre fadas e duendes em um mundo imaginário, que era só meu onde ninguém mais poderia entrar.
Os sonhos de criança foram substituídos por sonhos de adolescentes, o meu castelo foi derrubado, os reis e rainhas ficaram presos no mundo imaginário e o meu quintal não era mais o meu mundo, sem fadas e duendes eu aprendi a viver. O mundo imaginário ficou para tras e deu lugar ao mundo real. O príncipe apareceu e ele não veio em um cavalo branco igual eu escutava nas historias de princesa, ele veio tomando uísque e falando de futebol, dando esbarrões e falando sobre tudo e mais um pouco.
Com um sorriso sincero e uma vontade louca de ficar junto, reconstrui o meu castelo, mas hoje transformado em um quarto. Os duendes e fadas foram substituídos por abraços e carinhos. E o cavalo branco esse sim continuou como uísque, mas de companhia uma garrafa de tequila e uma dose de vodka. O meu castelo esta sendo construído aos poucos, colocando os sonhos e desejos em cada pedacinho de tijolo levantado. Os sonhos de criança continuam os mesmos, mas com objetivos e desejos diferentes. Meu príncipe esta comigo e sempre vai estar. No mesmo papel de pão eu vou escrever a nossa historia e a historia do nosso amor.
