"Peguei minhas coisas fui embora
Não queria mais voltar
Eu nunca quis presenciar o fim
Há dias que os dias passam devagar
Tudo se foi nada restou pra mim"
Era um dia qualquer, de uma semana qualquer, de um mês e um ano qualquer. Por que para o lugar que eu iria isso não fazia a menor diferença.
Era uma tarde ensolarada e o sol ia sumindo por de traz dos prédios e eu brincava de zigue-zague no canteiro central de alguma avenida com o nome que não tem importância. De todos os lados vinham carros e ônibus subindo e descendo num balé que não tinha fim. Eu só esperava à hora certa de passar entre eles em uma dança que teria fim
Em minha cabeça passava cenas de um filme em preto e branco, de uma vida que não era minha, que eu não queria para mim. Em um dos bolsos do meu casaco tinha uma carta de despedida, que era destinada aos meus pais e para aquele que era dono do meu coração.
Entre frases e letras, tinha algumas manchas de lagrimas que iam caindo na medida em que eu ia escrevendo, meu coração que um dia bateu de alegria tocava uma marcha fúnebre muito antiga. Na carta eu me despedia dos meus amigos e falava que eles eram tudo para mim e que não era para derramarem uma lagrima, mas sim tomar uma caixa de cerveja em minha homenagem. Escrevi também para ele, aquele que é dono do meu coração, que era para não se esquecer que eu o amei com todas as minhas forças e com todo o amor que um dia eu pude dar para alguém. E para finalizar a carta eu escrevi para os meus pais, falando que a culpa não era deles e que não era para se sentir culpado pelo o que aconteceu comigo, que eu os amo e agradeço por tudo.
O sinal fechou e eu fui em direção ao fim, fechei os olhos e escutei o barulho. Tudo escureceu, acabou, era o fim e estava tudo terminado, não teria mais volta. Vi as luzes se ascenderem e uma dor muito forte tomar conta de mim. Na hora que eu abri os olhos, eu enxerguei um sorriso amável e carinhoso que me falava para não ter medo e que tudo ficaria bem.
Senti aquele cheiro de chuva junto com um abraço que não tinha fim, olhei em volta e vi rostos conhecidos, vermelhos de tanto chorar. Em uma das minhas mãos terço e na outra a carta de despedida, que deveria ter sido entregue, mas não foi.
Nunca tinha visto tanta gente reunida e preocupada comigo, mas eu não via a pessoa mais importante para mim. No fundo do quarto encostado na parede e com o rosto afundado nas mãos, lã estava ele. Chegou perto de mim, sorriu e olhou nos meus olhos e disse: “Eu te amo. Não vai embora, não me deixe.” Entre uma lagrima e outra as juras de amor foram feitos no mais absoluto silencio.
Percebi que não precisava disso para me sentir amada, pelas pessoas que eu gosto. A morte não é a solução para os problemas e nem uma alternativa, ela só causa dor e sofrimento.
Rasguei a carta e sorri, pelo simples fato de estar viva. Vida Minha Vida.